segunda-feira, 22 de outubro de 2007

EP Toada Coimbrã (1990)

Capa

Contracapa

Rosto e verso do EP "Toada Coimbrã", Duplisom SG 3021, ano de 1990, gravado nos estúdios Musicorde, de Lisboa, em finais de 1989. A fotografia da capa é da própria Serenata Monumental da Queima das Fitas de 1989, reconhecendo-se todos os elementos da formação, e ainda Luís Carlos Santos, Rui Moreira, Rui Silva, José Rabaça, Henrique Ferrão e Luís Alcoforado. O verso apresenta um grande plano do Hotel Universal, da Figueira da Foz, que então patrocinou a edição do EP.
Os elementos da formação Toada Coimbrã encontraram-se na Secção de Fado da AAC. O guitarrista António Vicente tocava viola, compunha e cantava na Estudantina. João Paulo Sousa era membro da Estudantina. Rui Lucas fizera parte do Grupo de Fados da Secção de Fado da AAC em 1985. Os dois executantes de viola, João Carlos Oliveira (sócio da Orquestra Típica e da Estudantina) e Jorge Mira Marques (antigo elemento da Orxestra Pitagórica e das Escolas da Secção de Fado), também andavam ligados a grupos da Secção de Fado da AAC. Os dois guitarristas fizeram a sua formação inicial com Fernando Monteiro, tendo posteriormente transitado para as sessões orientadas por Jorge Gomes nas Escolas da Secção de Fado.
O núcleo original dos Toada constituiu-se em 1987, ano do êxito "Alta Noite na Sé Velha", com António Vicente (g), João Carlos Oliveira (v) e Rui Lucas (voz). Em 1988 esta formação foi alargada com a entrada de João Paulo Sousa (g), Jorge Mira Marques (v) e Alcides Sá Esteves (voz).
A "Balada da Despedida do 5º Ano Jurídico de 1988/89" (Sentes que um tempo acabou), com letra de António Vicente e música de João Paulo Sousa e Rui Lucas, conheceu assinalado palmarés logo na Récita de Quintanistas e na Serenata Monumental da Queima das Fitas de Maio de 1989, tendo sido vocalizada por Rui Lucas e Alcides Esteves. Com ela os dois guitarristas do grupo fizeram a sua despedida, apesar da formação ainda ter marcado presença na Serenata Monumental da Queima das Fitas de 1990 com a "Balada da Despedida do 5º Ano Jurídico de 1989/90" (Hoje acabou uma história que levo para contar...), ano em que se despedia Alcides Sá Esteves, igualmente de Direito.
O grupo Toada Coimbrã obteve alguma notoriedade pública entre 1987-1990, mantendo actividade regular até ao presente, não obstante a dispersão geográfica dos seus elementos. O cantor Rui Lucas foi referido em grande destaque pelo "Jornal de Coimbra", Nº 85, de 10-16 de Maio de 1989, pág. 6, como uma das vedetas da Serenata Monumental da Queima das Fitas desse ano. O tema "Alta Noite na Sé Velha", letra de António Dias Lucas e música de Rui Pedro Lucas, serviu de apresentação ao programa televisivo "Com pés e cabeça", fruto do convite formulado pelo grupo que representava Coimbra. E o êxito tem permanecido, pois em Maio de 2005 foi "Alta Noite..." cantado na Serenata Monumental da Queima das Fitas do Porto.
Além do EP mencionado, os Toada participaram no registo de temas incorporados no LP “Baladas da Despedida dos Anos 80”, Duplisom LP 1.004, ano de 1990, gravaram uma cassete com 12 temas clássicos ("Grupo de Fados de Coimbra Toada Coimbrã", Lisboa, Movieplay, 1992), e deram colaboração ao álbum negro da Secção de Fado da AAC (CD “Coimbra. Baladas, Fados e Guitarradas”, CD-SF 003, ano de 1994), bem como ao CD “Baladas da Despedida. Anos 90. Coimbra”, CD-SF 014, ano de 2002.
Na viragem da década de 80, esta formação divulgou temas inéditos, como um célebre "Ficarei até Morrer" (Gaivotas que o vento Norte não traz), muito trauteado a partir da respectiva divulgação na Sé Velha e marcou presença num programa televisivo dedicado à CC dos anos 80.
Os Toada têm actualmente pronto um trabalho de inéditos (já misturado e masterizado) que inclui os temas anteriormente referidos bem como outros criados pelo grupo entre 1987 e 2003, encontrando-se em estudo a forma e a oportunidade de publicação.
Na época em que os Toada Coimbrã surgiram, os grupos juvenis de CC viviam do mais puro amadorismo. Já não era aquele tempo em que os grupos eram designados pelo nome do guitarrista titular, tipo o grupo do Mansilha, do Chico Menano, do Paredes, do Bagão, do Brojo, do Tuna. Escolher e usar um nome ainda era aceitável. Mas ter um logotipo ou um emblema era considerado crime de lesa pátria. O mais ténue sinal publicitário era impiedosamente fustigado com o labéu da comercialização. A questão do caché gerava irados pudores e intermináveis discussões.
Ao cabo e ao resto os organizadores de festas e de eventos queriam a CC mas não pretendiam pagar o seu devido valor aos grupos juvenis no activo. Havia quem fizesse gala em lembrar as actuações gratuitas de antanho a troco de uma “bucha”. E havia, também, uma ou duas formações dinossauricas que arrebanhavam sempre o quinhão de leão dos convites e actuações. E esses grupos juvenis eram suficientemente ingénuos para não saberem gerir os seus interesses. Neste particular, temos de reconhecer que os Toada Coimbrã fizeram pioneiramente época. Criaram um logotipo promocional estilizado e implementaram campanhas amadoras de divulgação de contactos/endereços num tempo em que ainda não havia internet. Foram invejados e criticados pelas más línguas coimbrinhas, mas se virmos bem, o tempo veio dar-lhes razão.
Para os croniqueiros habituais da pseudo "estória" da CC, em cuja voz e pena não houve grupos juvenis activos nas décadas de 1980/1990 (ou então, até teriam existido, mas não fizeram nada de importante, diz-se), nem produção artística, eis neste EP e na pequena história que o rodeia uma boa prova de como os ditos croniqueiros produzem falsificações da história. Os Toada Coimbrã, tal como outras formações, foram reais. E o EP em questão não pode ser considerado apenas mais um disco entre tantos outros. Além das obras nele gravadas, ele testemunha o derradeiro grito das gravações vinil de 45 rpm da História da CC. Em termos de testemunhos da civilização material e de objectos de arqueologia industrial, este de 1990 fechou um longo ciclo cuja trajectória fora iniciada em 1956 com eps do Coimbra Quintet.

Dr. António Nunes
In: http://guitarradecoimbra.blogspot.com/2006/01/rosto-do-ep-toada-coimbr-1990-rosto-do.html

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