segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Canto a Coimbra – “Canto D’Alma” – um olhar sobre o disco


Tendo-nos sido simpaticamente enviado um exemplar deste trabalho foi também pedida a impressão sobre a audição do mesmo.

Após auscultação mais cuidada sobreleva uma vez mais o Amor a Coimbra cultivado à distância e por quem com a Alma Mater nunca ou apenas esporadicamente teve uma relação próxima ou de contacto imediato. Assim, o conhecimento da Canção de Coimbra resulta da audição dos sopros do Mondego falados e cantados numa idiossincrasia colectiva disseminada pelos quatro cantos do mundo e que se entranha em muitos. Alguns desses vão mais longe, cultivando-a e recriando-a, propagando-a também dessa forma.

É este o caso dos “Canto D’Alma” neste seu segundo trabalho continuando a elencar os grandes temas da Canção Coimbrã, não sem que procurem já incluir o seu “apport” traduzido na introdução de peças originais, como é o caso de “O Rouxinol do Choupal” inserido logo a seguir ao tema que abre o álbum e lhe dá nome . O grupo em si personaliza-se na valorização que dá à Palavra e à sua interpretação a ponto de ter um elemento que apenas “diz” a poética de matriz coimbrã, o que parece ser recorrente nos seus espectáculos.

O álbum percorre todas as vertentes da música de Coimbra e seus principais autores. Mais do que a preocupação tímbrica da adequação dos intérpretes aos temas executados nota-se o interesse em que o que é dito, tocado e cantado esteja à frente de tudo o mais e de modo a que se torne impressivo para quem escuta. Para tanto, e se necessário, arriscam mesmo a modificação harmónica e melódica dos temas, bem como a sua partilha entre cantores ou mesmo com coralização de alguns refrões. Tendo em conta a extensão do trabalho – 19 temas – e a sua distribuição vocal pela quase integralidade dos seus elementos, este trabalho quase parece o resultado duns serões entre amigos em agradável tertúlia e que por mero acaso acabou por ficar registada em áudio. Assim não terá sido até porque a captação é cuidada, mas denota-se a enorme cumplicidade entre todos os elementos do grupo e as cedências aos gostos individuais.
Instrumentalmente, e para além do já dito, sublinhe-se a existência de trechos suportando os poemas ditos e apenas uma guitarrada, as famosas “Danças Palacianas” também personalizadas por uma fase inicial exclusivamente à guitarra clássica a que se junta depois a Guitarra Coimbrã de António Cardoso.

Uma palavra final para versão da nossa Balada de 89 que encerra o álbum. Em nada destoa do que já foi dito quanto a todo o trabalho: a emoção está presente do princípio ao fim no que é dito e como o é. O acompanhamento procura no essencial reproduzir o nosso arranjo original e consegue-o.

Em suma: mais um degrau escrito na história deste grupo merecendo aplauso e desejo de continuação da sua actividade. E como dizia o outro, meus amigos do Canto D’Alma: “O caminho faz-se caminhando…”


João Paulo Sousa

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